sábado, 15 de agosto de 2009

Quando perdi minha vida...

No momento em que me desliguei do meu corpo, a dor desapareceu, não tinha mais nada que me causasse sofrimento. A não ser ver o meu corpo e me sentir nele pela última vez.
Acho que era a coisa certa a ter acontecido. Não podia mais lutar para sobreviver com aparelhos, sentindo dores, meu corpo já não conseguia me manter viva. Pior do que minhas dores físicas, era ver minha família, meus amigos e meu namorado sofrendo. O que eu tinha nunca houve explicação, uma doença repentina, que eu nunca tinha apresentado qualquer sintoma e do nada veio à tona.
Era tão estranho estar próxima a minha família sem que eles pudessem me ver. Mas tenho certeza que sentiam minha presença. Durante muito tempo foi assim, eu não podia seguir em frente. Não, sem meu namorado e meus pais. Eles precisavam de mim, e eu deles. Como tudo foi acabar assim? Foi quando percebi, que as coisas não acabaram, pelo menos não para todos. E sim pra mim. Era dura a realidade, por muito tempo eles iriam ficar em luto, iriam ficar tristes, mas tudo aquilo iria passar e por mais que me amassem, eles tinham que seguir com a vida. E eu teria que me afastar espiritualmente deles, sei que minha presença sem meu corpo, os deixavam desconfortáveis. Aliás, não era pra mim estar ali, eu tinha que fazer a travessia. Mas me faltava coragem.
Me sentia sozinha, eu tinha sentimentos. Ás vezes queria conversar com alguém, sem sucesso. Ninguém encarnado podia me ouvir. Então numa oração, eu disse a Deus que a solidão era muito grande, mesmo eu ainda estando próxima a meus familiares, mas se nem eles e nem meu namorado podiam me ouvir, já não era uma boa escolha para mim. Não queria mais permanecer ali daquela forma.
Eu já sabia que não poderia mais aguentar muito tempo ali com eles, então a cada momento que eu estava junto deles, era como se fosse a minha real despedida. Foi doloroso, estar próximo a eles pelam última vez. Mas para eles a despedida já tinha sido feita, só para mim que não.
A dor deles nunca iria acabar, mas foi diminuindo, e para mim não. Eu também tinha que me libertar daquilo. Fechei os olhos, pensei por um tempo e quando abri novamente, lá estava na minha frente. Uma luz tão convidativa e tão forte, que era capaz até de cegar. Mas não tentei resitir a ela, sabia que era pra onde eu deveria ir. Então a morte é assim? Não me parece escura. E então fui ao encontro da luz, seria ela eterna? O que será que há do outro lado? Ainda não sei, estava para descobrir. Antes de descobrir, se eu pudesse somente iria dizer para todas as pessoas para viver, fazer bom proveito do tempo de vida, dizer "Eu te amo" para todos que amamos, porque depois que o tempo acabar, não poderemos mais dizer o que sentimos e nem fazer demonstrações do amor que temos pela nossa família, nossos amigos e pelo nosso verdadeiro amor.

5 comentários:

Yasmin disse...

Nesta situação a morte é descanso, é libertação. Acho importante frisar este lado. Realmente com uma doença é melhor a solução mais fácil e menos doloroso. :)

Patrícia disse...

Nossa, ficou muito lindo. Até lembrei da "Menina de Ouro"

Clarisse Bastos disse...

Texto lindo *-*
Parabéns :DD
Beijão.

Anônimo disse...

Poxa, muito lindo!
Realmente muitas vezes a morte não é escura, e temos que nos desprender para podermos descançar!

Beeijos!

Karen disse...

Ê talento. Adorei..